Hoje, a iluminação pública é algo que damos por garantido, especialmente num país como o nosso, alinhado com os ditos desenvolvidos. Contudo, nem sempre foi assim: tempos houve em que posto o sol, as cidades, vilas e aldeias portuguesas caíam na escuridão até à manhã seguinte. A história da iluminação pública em Portugal inicia-se em Lisboa, no fim do século XVIII, com alguns, poucos, cadeeiros no centro da cidade alimentados a azeite (Cordeiro,2006). Desde então, vários têm sido os meios experimentados, sendo hoje a rede praticamente toda eletrificada. Este processo foi demorado, experimental e correu a diferentes velocidades, nas cidades mais populosas e no restante território.
Nesta publicação, refletimos acerca da importância da luz durante a noite em meio urbano, a sua eficiência e compatibilização com as necessidades das populações, o seu impacto na segurança das populações, no meio ambiente e em nós.
Lisboa foi o grande palco de experimentações no que à iluminação pública nacional diz respeito. Desde as primeiras experiências a azeite, que obrigavam a grande atenção, cuidado e constante reposição, passando pelo gás e outros derivados do petróleo até à atual eletrificação, várias foram as estratégias testadas. Uma vez substituídas em Lisboa, por tecnologia mais económica, eficaz e segura, muitos candeeiros eram cedidos ou vendidos a outras câmaras municipais espalhadas pelo país, que com orçamentos mais curtos, iam implementando as primeiras estratégias de iluminação urbana.
Nas imagens abaixo é mostrada a exigente limpeza dos candeeiros a gás, na Praça do Comércio, em Lisboa, em meados de 1900 - uma fotografia de Paulo Guedes -, e o projeto da distribuição de candeeiros a luz intensiva incandescente na Avenida da Liberdade e Praça Marquês de Pombal, do mesmo período e disponível.
A iluminação pública tem um impacto direto na nossa predisposição para frequentar um determinado local depois de anoitecer. Para a segurança rodoviária, a orientação e a percepção de segurança em meio urbano, a existência adequada ou não da mesma é essencial. Sabe-se que boas estratégias de iluminação reduzem os acidentes nas estradas e que uma luz mais azulada - dita "fria”, por oposição a uma mais amarelada - dita "quente" - faz com que os peões tendam a sentir-se mais seguros (LightningEurope).
Em Portugal, o Centro Português de Iluminação (CPI) disponibiliza no seu site manuais de boas práticas e esclarecimentos quanto aos conceitos fundamentais da iluminação pública, bem como informação da atualização das normativas portuguesas e europeias a este respeito.
A seguinte imagem ilustra a cidade de Évora, pioneira em Portugal, que em 2011 abraçou a tecnologia LED "sem substituir as luminárias, que fazem parte do património histórico" da cidade e instalou sensores de presença que permitem "diminuir o nível de iluminância em períodos noturnos de menor atividade, sem risco de perda de quaisquer qualidades funcionais e de segurança.”
Nos anos 70 do século passado, a "distribuição de energia elétrica estava concentrada nos grandes centros urbanos, o que levava a que uma parte do país ainda estivesse às escuras". Com a revolução de Abril e a nacionalização do setor, o serviço ficou sob controlo da "EDP, constituída em 1976, que criou grandes operações que visavam garantir a cobertura do serviço a todo o país, garantir a sua estabilidade e uniformizar as tarifas cobradas (EDP).
Duas operações ficaram particularmente conhecidas: a operação Trás-os-Montes e a operação Beira Baixa, zonas particularmente escuras do país, onde muitas das sedes de freguesia não dispunham ainda de um sistema de iluminação pública ou o existente, muitas vezes alimentado a petróleo e derivados, não era fiável nem cobria todo o território.
A seguinte imagem, retirada de um artigo do Público, ilustra a empresa proprietária da Central Tejo - Companhias Reunidas de Gás e Electricidade - que, até à nacionalização em 1975, produziu a grande parte da energia distribuída na rede pública com aquela que ficou conhecida por "hulha branca": a força dos rios.
"Nas cidades, principalmente, destruímos a noite. Destruímos o conceito de noite. Nas cidades, noite é ausência de luz directa ou difusa do Sol. Nas cidades, noite é um conceito astronómico sem significado visível. Nas cidades, noite é um intervalo de tempo. Nas cidades, noite é dia.", afirma Raul Lima, investigador da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, ao Público.
No Alentejo, existe desde 2011, a primeira reserva certificada pela Starlight - a Dark Sky Alqueva, composta pelos municípios de Portel, Reguengos de Monsaraz, Alandroal, Mourão, Moura, Barrancos e Mértola. Esta certificação garante que estes territórios reúnem condições ideais para a observação astronómica, em que em muitos centros urbanos é impossível dada a quantidade de luz artificial noturna.
"Mais luz não é necessariamente sinónimo de melhor iluminação. Em Portugal, com a transição de grande parte da rede de iluminação pública para lâmpadas LED, mais económica, duradouras e eficientes, continua a haver, em muitos casos, uma desadequação e gastos excessivos nos consumos. Há ainda grandes perdas fruta de uma má distribuição das luminárias ou excesso de intensidade da luz, que pode ter impacto nefasto da saúde humana, na fauna e na flora.
Deixamos, como sugestão de leitura, o artigo de 2016 escrito pelo investigador Raul Lima, da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, no jornal Público, que explica em maior detalhe o que é a poluição luminosa e os perigos que acarreta para nós e para o ambiente que nos rodeia.